Que jamais a arte abstrata, que causa estragos no presente
Tire de vossos atrativos esse volume surpreendente
Nestes tempos em que as bundas-falsas são maioria
Glória àquela que diz toda a verdade

Vosso dorso muda de nome com tanta graça
Que não nos podemos impedir de dar-lhe razão
Por que não sou, Senhora, um poeta de raça
Para dizer, em seu louvor, um imortal "blason" ?

Vendo-o passar, fiquei todo arrepiado
Enfim, acordei para o mundo e, desde então, consagro-lhe
Um verdadeiro culto e, quando perco no jogo de boliche
Ao beijar a Fanny, só penso em vós

Para obter, Senhora, uma redondeza dessa ordem
Deveis torturar as pessoas à vossa volta
Dar aos costureiros muitos braços a torcer
E deveis extenuar as vossas camareiras

É o Duque de Bordeaux que passa, com a cabeça baixa
Pois a dele se parece com a minha como duas gotas d’água
Se a dele se parecesse com a vossa, dir-se-ia, quando ele passa
“O Duque de Bordeaux é um mimoso jovem”

Não façais caso dos invejosos que declaram
Que posicionastes o vosso orgulho algo baixo
Que vós presumis demais, em suma, de vossas nádegas
E, sobretudo, por favor, não vos senteis

Deixai-os contar que, ao sairdes da carruagem
A brisa levantou vosso vestido e que se viu
Escrito num coração perfurado por uma flecha
Esta expressão trivial: “Ao Julinho, por toda a vida”

Deixai-os dizer ainda que na corte da Inglaterra
Fazendo reverência aos soberanos ingleses
Vós caístes – plaft! – no chão
A lei da gravidade é dura, mas é a lei

Ninguém pode, hoje, morrer sem ter visto Nápoles
Querem todos correr para ver obras-primas
Minhas ambições são bem mais razoáveis
Ver vossa academia, Senhora, e depois morrer

Que jamais a arte abstrata, que causa estragos no presente
Tire de vossos atrativos esse volume surpreendente
Nestes tempos em que as bundas-falsas são maioria
Glória àquela que diz toda a verdade